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Pesquisa aponta aumento do uso de psicofĂĄrmacos na pandemia em MG

Medicamentos foram utilizados para casos de depressão e ansiedade

Por Por Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro em 20/01/2024 às 16:32:00
Por Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Por Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Minas mostrou que o consumo de medicamentos relacionados à saĂșde mental fornecidos pelo Sistema Único de SaĂșde (SUS), em Minas Gerais, aumentou durante a pandemia de covid-19. O estudo analisou dados do Sistema Integrado de Gestão da AssistĂȘncia FarmacĂȘutica de forma a traçar o perfil do fornecimento de psicofĂĄrmacos e verificar as tendĂȘncias de uso antes e durante a pandemia.

A anĂĄlise compreendeu dados gerados em um perĂ­odo de quatro anos: entre janeiro de 2018 e dezembro de 2019, para verificar o consumo antes do surgimento dos casos de covid-19 no paĂ­s, e de janeiro de 2020 a dezembro de 2021, para apurar o uso durante a pandemia.

De acordo com as anĂĄlises, os medicamentos mais consumidos no decorrer da pandemia foram o cloridrato de fluoxetina, indicado para o tratamento de depressão; o diazepam, prescrito para ansiedade; e fenobarbital sódico, para epilepsia. Comparando os dois perĂ­odos, antes e depois da pandemia, os medicamentos que tiveram maior aumento percentual de consumo foram clonazepan, para ansiedade, com aumento de 75,37%; e carbonato de lĂ­tio, que tem como principal uso o tratamento do transtorno de bipolaridade, com aumento de 35,35%.

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Entre os itens do Componente Especializado da AssistĂȘncia FarmacĂȘutica, os medicamentos mais consumidos foram olanzapina, risperidona e hemifumarato de quetiapina, todos indicados para o tratamento de esquizofrenia. Os que tiveram maior aumento no percentual de consumo, comparando os dois perĂ­odos, foram levetiracetam, para epilepsia, com elevação de 3.000%; e cloridrato de memantina, indicado para Alzheimer, cujo consumo subiu 340%.

Para a farmacĂȘutica Sarah Nascimento Silva, que integra o NĂșcleo de Avaliação de Tecnologias em SaĂșde da Fiocruz e coordenou o estudo, embora o crescimento no consumo de antidepressivos e ansiolĂ­ticos possa estar associado ao contexto de incertezas e preocupações gerado pela pandemia, outras questões podem ter influenciado nesse aumento, como medidas importantes que afetaram as polĂ­ticas pĂșblicas de saĂșde mental.

"Primeiramente, houve a alteração da legislação que regula a dispensação de medicamentos psicotrópicos, em vigĂȘncia entre março de 2020 e setembro de 2023, que ampliou temporariamente as quantidades mĂĄximas de medicamentos permitidas nas notificações e receitas de controle especial. Essa resolução triplicou a quantidade de medicamentos dispensados em uma Ășnica receita e ainda autorizou a entrega remota, antes proibida", disse a pesquisadora.

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Outro ponto importante destacado por ela foi a ampliação de transferĂȘncia de recursos financeiros aos municĂ­pios, por parte do Ministério da SaĂșde, para aquisição de medicamentos do Componente BĂĄsico da AssistĂȘncia FarmacĂȘutica, tendo como justificativa os impactos sociais causados pela pandemia, o que possibilitou a expansão da oferta de medicamentos à população.

A farmacĂȘutica ressaltou que, embora essas alterações tenham ampliado e facilitado o acesso aos medicamentos, a Rede de Atenção Psicossocial jĂĄ vinha, nos anos anteriores à pandemia, sofrendo mudanças que impactaram negativamente na assistĂȘncia prestada aos usuĂĄrios, que deixaram de contar com uma série de atendimentos. Durante a pandemia, isso foi agravado, jĂĄ que com o isolamento social a rotina de serviços dos centros de Atenção Psicossocial (CAPs) foi bastante afetada, impactando ainda mais na assistĂȘncia adequada.

"Ou seja, em um momento de alta vulnerabilidade da população, observam-se o acesso e a oferta facilitada a esses medicamentos, ao mesmo tempo em que a rede de assistĂȘncia estava comprometida. Assim, sabendo do alto potencial de dependĂȘncia e abuso dos psicofĂĄrmacos, este estudo também chama a atenção para o risco de que tais mudanças, ainda que transitórias, possam alterar comportamentos que vão exigir um trabalho contĂ­nuo da AssistĂȘncia FarmacĂȘutica com foco no uso racional dos medicamentos", afirma.

A coordenadora ressalta, ainda, que um dos fatores que pode ter influenciado no crescimento do consumo do levetiracetam, que registrou aumento de 3.000%, é o acesso recente a esse medicamento, incorporado à lista de produtos ofertados pelo SUS em 2017, para tratamento de epilepsia refratĂĄria e microcefalia. Assim, o aumento no fornecimento possivelmente não estĂĄ ligado a uma questão epidemiológica, mas tem relação com o tempo que uma nova tecnologia incorporada é de fato implementada na prĂĄtica clĂ­nica.

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