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"Sem educação não tem ciência", defende Helena Nader

Por Central TO em 09/04/2022 às 15:18:54

A médica pneumologista Margareth Dalcolmo recebe a dose da vacina de Oxford/AstraZeneca - Tomaz Silva/Arquivo Agência Brasil

Ela aponta a médica e pesquisadora Margareth Dalcolmo – uma das principais especialistas em covid-19 e doenças pulmonares no país – como um exemplo para as novas gerações.

“Acho a Margareth uma mulher fora do comum no que ela faz. Sem contar outras, como a Ester Sabino [imunologista, pesquisadora e professora universitária brasileira]. Esta pandemia mostrou várias cientistas, que foram exemplos para as meninas e também para os meninos porque a clareza delas motivou também os meninos”.

Helena Nader lamenta que a divisão de tarefas domésticas ainda seja desigual e recaia sobre as mulheres prejudicando, muitas vezes, o trabalho intelectual e fora de casa.

“A pandemia prejudicou mais as mulheres cientistas do que os homens, não só no Brasil, no exterior também. Pelo fato de ficar todo mundo em casa, a produção científica dos homens aumentou, mas a das mulheres caiu. O que mostra as desigualdades. Quer dizer, a gente caminhou, mas um grande evento, como foi a pandemia, mostrou que esse equilíbrio nas relações de trabalho de casa, ainda é muito muito desigual e muito desfavorável para a mulher”, lamentou a pesquisadora.

A cientista reconhece que o Brasil precisa percorrer um longo caminho para combater desigualdades. Dentro da ciência, ela afirma ainda que é preciso garantir a entrada de mais negros e indígenas.

“No Brasil não é só a desigualdade entre homens e mulheres, mas a desigualdade entre as raças. A maioria do povo brasileiro é negra. A ciência ainda é muito pouco negra. Há poucos indígenas. O país tem que, primeiro, reconhecer que foi escravocrata e insistir em políticas públicas de inclusão”.

Diálogo

A nova presidente da Academia Brasileira de Ciências - ABC, Helena Nader, é biomédica da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. - Rovena Rosa/Agência Brasil

Com a bandeira do diálogo com a sociedade, Helena se entusiasma ao falar dos benefícios que a ciência pode trazer a todos. “Estamos fazendo ciência para a sociedade, seja para entender o mundo ou para gerar um determinado produto. A ciência é o acúmulo de conhecimentos para o bem estar da sociedade, por isso, esse diálogo vai ser muito importante”.

Em sua gestão, a pesquisadora diz que pretende também aumentar a interlocução com o governo.

“Vamos lutar para que o Brasil, de fato, assuma a educação e a ciência como política de Estado, e não de quem está com a caneta na mão, de quem é o governo de plantão. É difícil, mas a gente almeja. Vi isso acontecendo nos Estados Unidos, onde os legisladores, se não trouxerem o benefício para o coletivo - e o benefício não é o aumento de salário - eles não vão ser reeleitos”, destaca.

Helena acredita ainda na importância de se fazer um trabalho de convencimento com os legisladores.

“Muitas vezes, os deputados e senadores estão votando uma determinada legislação e há alguns detalhes que podem afetar fortemente a sociedade, como é o caso, por exemplo, da Medida Provisória (MP) em relação aos recursos voltados para gás e petróleo. Em vez de investir em ciência vão renovar a frotas de máquinas!", lamenta.

"O próprio [Donald] Trump [ex-presidente dos Estados Unidos] investiu mais em ciência, inclusive na indústria. As vacinas da Pfizer e da Moderna tiveram dinheiro público investido”, recorda a pesquisadora.

Ela se referia à MP 1.112/2022, que muda quatro leis com o objetivo de aportar recursos para o Programa de Aumento da Produtividade da Frota Rodoviária no País (Renovar).

As empresas contratadas para exploração e produção de petróleo e gás natural podem destinar recursos para o desmonte e a destruição dos veículos pesados em fim de vida útil e descontar o valor aplicado do total de investimentos que são obrigadas a fazer nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

Estudo com a heparina

A nova presidente da Academia Brasileira de Ciências - ABC, Helena Nader, é biomédica da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp. - Rovena Rosa/Agência Brasil

A biomédica tem como objeto de pesquisa a heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de trombos. A pesquisadora é bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou mais de 380 artigos em revistas científicas internacionais e já formou 46 mestres e 51 doutores, dos quais se orgulha em trabalhar junto.

“A heparina é um anticoagulante que até hoje não tem substituto, ele é retirado da mucosa intestinal bovina e suína, esse anticoagulante é fundamental para quem faz hemodiálise”, explica. O medicamento faz a prevenção de trombos no circuito de diálise.

Uma descoberta recente mostrou que a heparina pode impedir que o novo coronavírus invada as células. Os testes foram conduzidos por pesquisadores do Instituto de Farmacologia e Biologia Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Infar/Unifesp).

“Tem uma camada no vaso sanguíneo que se chama endotélio e o sangue flui por ali. Com a covid-19, a célula endotelial fica lesada e, ao invés de ser antitrombótica, ela vira pró trombótica, ela coagula e o que se viu foi que a heparina tem um papel fundamental", explica.

"Há também o irmão gêmeo da heparina, e foi nosso laboratório [Infar/Unifesp], em conjunto com alguns laboratórios do exterior, o primeiro grupo mostrando que existe na superfície um receptor que é parecido com a heparina que se chama heparan e que é importante para interação do vírus. Quando se dá a heparina, você impede a entrada do novo coronavírus nas células. Fomos o primeiro laboratório a ver isto, publicamos e tivemos o auxílio da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo], que foi fundamental”, frisou Helena.

Fonte: Agencia Brasil

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