Projetos nascidos em BH ampliam alcance do grafite e promovem inovação

Por Central TO em 04/09/2022 às 18:58:05

Mural Etnias, de Kobra, entra para o Guinness como maior grafite do mundo - Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

A capital paulista é precursora no movimento de grafite no país e é onde reside alguns artistas brasileiros de projeção mundial como Otávio Pandolfo e Gustavo Pandolfo, conhecidos comos Os Gêmeos, e Eduardo Kobra. O trabalhos de ambos chegou aos Estados Unidos e à Europa. Na última década, o grafite passou aos poucos a ser usado como instrumento para embelezar locais da cidade, a partir de projetos públicos lançados de forma pontual. Mas a relação com as autoridades continuou marcada pela conflito como ilustra o episódio de 2017.

Dois anos antes, a prefeitura de Belo Horizonte, então comandada por Márcio Lacerda, tirava do papel o projeto Telas Urbanas, voltado para requalificação e transformação dos espaços públicos e privados urbanos por meio da arte mural. Através de editais públicos, selecionavam-se propostas para a produção de intervenções artísticas em espaços urbanos da cidade.

Márcio Lacerda tinha uma relação turbulenta com alguns grupos culturais da cidade, sobretudo com os blocos que impulsionaram na época a retomada do carnaval de rua na capital mineira, driblando regras estabelecidas pelo município. Apesar do estímulo ao grafite sugerir que a gestão municipal da capital mineira apostava em um caminho diferente de São Paulo, também houve atritos com a comunidade de artistas.

Convidado para assumir a curadoria do Telas Urbanas, Comum conta que os cachês previstos eram baixo e que o projeto parecia voltado para um propósito de de limpeza urbana: grafitar muros tomados pela pichação. Quando ele assumiu, o edital foi cancelado e refeito.

"Conseguimos realizar um projeto mais identificado com o grafite", conta. Mesmo assim ele lembra que existiram tensões e que alguns murais foram pichados depois de concluídos. Ele encara a reação como uma expressão dos artistas. "Deram sua resposta", avalia.

Profissão

Assim como o Cura e o Fábrica de Grafitti, Belo Horizonte é hoje sede de outras iniciativas envolvendo o grafite como o Projeto Gentileza e o Museu da Rua. São iniciativas que dependem do aporte de recursos públicos ou de patrocínio privado. Paula Lage observa que a visão de cada governo influencia o nível de investimento cultural e vê um esvaziamento dos editais atrelados à Lei Federal de Incentivo à Cultura no último período.

Por outro lado, ela crê que o poder público, nas capitais, já compreende que a arte urbana contribui para deixar menos hostil o deslocamento pelas vias públicas, geralmente marcadas pelos engarrafamentos e pelo adensamento imobiliário.

Esse novo entendimento acompanha a evolução do grafite não apenas como arte, mas como negócio: junto com aporte de recursos públicos, o patrocínio privado também avançou. O desembarque da Fábrica de Grafitti em Tramandaí foi possível através de financiamento do Instituto EDP, braço social da EDP Brasil, robusta empresa do setor energético.

Há um entusiasmo das marcas, que buscam se capitalizar em cima do grafite: elas apostam em novas linguagens para dialogar com novos públicos. Para Paula Lage, foi essa conversão do marginal para o comercial que abriu espaço para que surgissem diversos trabalhos de grande escala, como as pinturas que preenchem integralmente paredes de edifícios altos.

Ela observa que é uma evolução contínua, na qual o grafite vem conquistando novos espaços e já foi absorvido também pelas galerias de arte. Esse ambiente gera oportunidades e melhora a remuneração dos artistas. Além de garantir fonte de renda através dos cachês, os festivais contribuem abrindo novas frentes de trabalho: o Fábrica de Grafitti é um exemplo de como grafiteiros também vem se desenvolvendo como professores e arte-educadores.

"Ainda aparecem pessoas dizendo 'tenho um muro para doar'. Mas percebo que os artistas estão se valorizando cada vez mais. Estão mais reticentes a realizar um trabalho apenas por divulgação. Há mais consciência e um movimento constante para validar o grafite como uma profissão", diz Paula Lage.

Fonte: Agencia Brasil

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