Cem anos do rádio no Brasil: as novas tecnologias e a aposta no futuro

Por Central TO em 05/09/2022 às 16:02:16

Podcast

O “nascimento” do podcast ocorreu em 2004. Naquele período, as empresas de tecnologia buscavam uma solução para que a questões dos downloads ilegais de produtos fonográficos protegidos por direitos autorais. Uma das iniciativas foi o iTunes, da Apple.

Em 2004, um artigo do jornal The Guardian questionou se o iPod (aparelho da empresa) deveria apenas tocar música ou se poderia pensar em uma linguagem específica. Foi dessa indagação que, de acordo com Marcelo Abud, radialista e professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o ex-VJ da MTV dos EUA Adam Curry cunhou o termo podcast. “Ele foi o responsável por cunhar esse termo e aí desenvolver os primeiros podcasts lá nos EUA”, diz.

Ao contrário do rádio na internet, transmitido ao vivo, o podcast passou a permitir que os ouvintes baixassem um conteúdo e o escutassem no momento em que quisessem. Em um tempo no qual o acesso à web era limitado e as pessoas não estavam 100% do tempo conectadas, era uma saída para se consumir conteúdo. “O podcast traz no seu início, na primeira onda, uma expectativa de uma liberação do ouvinte no sentido de que todo mundo poderia escolher quando e o que iria ouvir”, diz o professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Kischinhevsky.

Apesar de ter “nascido em 2004”, o podcast não teve sucesso imediato. Em 2008, o formato teve uma crise e quase foi extinto. Marcelo Kischinhevsky aponta isso ocorreu também pelo formato ter surgido “antes do tempo”. Para ele, por volta de 2013, houve uma nova valorização do formato: Plataformas de financiamento coletivo e principalmente a expansão dos smartphones ajudaram no crescimento.

Mais recentemente, o podcast cresceu mais ainda com a chegada de plataformas especializadas como o Spotify, Deezer e (no Brasil) Globoplay. “Hoje, ele está organizado em torno de grandes plataformas de distribuição, que são fundamentais para a visibilidade de qualquer podcast. A gente tem aí o Spotify como ator dominante no Brasil, a Apple é pioneira no Brasil e também relevante no mercado, e agora novos atores entrando, entre eles, no Brasil, o Globoplay, oferecendo podcasts exclusivos”, completa Marcelo Kischinhevsky.

Para ele, o formato facilita a segmentação de conteúdos via áudio. “O podcast trouxe uma possibilidade muito rica de você ouvir conteúdos que são altamente especializados, que são ultrassegmentados e que muitas vezes não estavam disponíveis no rádio hertziano AM/FM.”,afirma.

Não são poucas as opções que os ouvintes têm de podcasts. Há conteúdos voltados à música como o Caipirinha Appreciation Society, que contam a história do Brasil sob uma nova ótica como o Projeto Querino, que debatem temas importantes na sociedade como o Tempo Quente, de ficção e, claro, de conteúdo informativo diário.

Em meio ao boom do formato, há um debate entre especialistas: podcast pode ser considerado rádio? Para Marcelo Kischinhevsky, trata-se, sim, de um formato radiofônico com características próprias. “Não é porque não é feito ao vivo, é um conteúdo sob demanda, ele pode ser ouvido em qualquer local, a qualquer momento, que vai deixar de ser rádio”, afirma.

Marcelo Abud também pensa desta forma. “Eu acredito que para a gente entender se podcast é rádio ou não, vale a reflexão do que é o rádio hoje. O que conta ou não para que seja uma transmissão de rádio é o fato de o som ser a essência deste conteúdo, e o podcast tem por essência o som”, afirma.

Nair Prata também aponta que o som é elemento fundamental que define que podcast é, sim, rádio: “O elemento-chave do rádio continua sendo o som, só que agora com a agregação de novos signos nos campos textual e imagético gerados pela internet. Eu acredito que o conceito de rádio não deve estar atrelado a uma determinada tecnologia, mas que o rádio deve ser pensado como uma determinada proposta de uso social para um conjunto de tecnologias, cristalizada numa instituição”, afirma.

Para Bruno Micheletti, o formato pode se encaixar dentro do que é rádio, mas a discussão ainda está aberta. “Embora eu ainda esteja pesquisando o tema, eu arrisco afirmar que podcast faz parte do rádio, ele tem ali interação com o público, ele tem alguns elementos que caracterizam com a linguagem radiofônica, mas ele se difere na forma de distribuição, e aí ele entra muito na lógica do digital e nessa lógica de distribuição descentralizada”, aponta. “Eu gosto de pensar que podcast talvez não seja rádio, mas o rádio está no podcast”, completa.

Escute o interprograma especial sobre podcast

E o futuro? Comemoraremos 200 anos de rádio no Brasil?

Com um rádio migrando para plataformas digitais e sendo representados por novos formatos, fica um questionamento: qual é o futuro do rádio no Brasil? Para estudiosos sobre o tema, iremos, em 2122, sim, comemorar 200 anos de rádio no Brasil.

Nair Prata acredita que o veículo passará por uma “radiomorfose”, no qual o meio vai se adaptar com mudanças tecnológicas. “Assim, ao invés de morrer, pelo princípio de sobrevivência, o meio antigo procura se adaptar e continuar evoluindo em seus domínios”, afirma.

Ela relembra que o rádio já sobreviveu à chegada da TV e que o processo se repete neste início de século XXI. “Daqui a 100 anos o rádio continuará a existir, sempre tendo o som como elemento definidor”, completa.

Fonte: Agencia Brasil

Comunicar erro
JORGE CONSORCIO

Comentários

BANNER 05